Podemos definir a Ratoeira, superficialmente, como uma manifestação folclórica semelhante a uma “brincadeira de roda”, típica das populações de origem luso-açoriana do litoral catarinense. Um grande círculo formado por moças e rapazes de mãos dadas, indo ao centro um participante que, indicando outra pessoa, puxa uma cantiga declamando uma quadrinha tradicional ou de improviso. Dependendo da intenção, a quadra pode variar de uma declaração de amor até uma provocação aos desafetos, em tom de piada ou desafio, não raro recitando-se versos verdadeiramente sarcásticos e satíricos. Quando falava de amor, paixão, amizade ou gratidão não havia problema, porém, às vezes, a brincadeira podia esquentar...
Vejamos alguns exemplos, que considero particularmente representativos:
Ratoeira bem cantada
Faz chorar faz padecer
Também faz o triste amante
Do seu amor esquecer
O sereno desta noite
Caiu na folha da palma
O dia que não te vejo
Não faço renda com calma
A moça prá ser bonita
Tem que ter formosura
Ter a perna grossa
E delicada de cintura
O alecrim miudinho
Nasce na pedra redonda
Tomara nunca te ver
Nem passar por tua sombra
Quem fala de mim, quem fala
Quem fala de mim, quem é
A língua serve de sola
Pro chinelo do meu pé...
Quando morrer me enterre
Na terra do teu jardim
Deixe meus olhos de fora
Que eu quero ver o teu fim
PEGA!!!
Deve ser por isso que a tradição vem desaparecendo...
Kalunga