Introdução:
A Ilha de Santa Catarina é, indiscutivelmente, abençoada com uma beleza natural ímpar. Privilegiada pela biodiversidade, fauna e flora revelam uma exuberância que deslumbra pela variedade de formas e matizes que dominam a paisagem. Essa atmosfera fértil está presente em cada recanto, criando um imediato sentimento de fascínio e admiração em todo aquele que tem o prazer de conhecê-la e desfrutá-la.
Porto seguro para navegantes de todas as nacionalidades e porta de entrada para o Estado, Nossa Senhora do Desterro atraiu, recebeu e abrigou, ao longo dos tempos, toda a multiplicidade étnica que forjou o cidadão brasileiro. Não obstante, é notória a influência dos colonizadores açorianos na formação do ilhéu e a singularidade do "manezinho" o torna igualmente encantador, do ponto de vista antropológico e historiográfico. O cotidiano e o imaginário popular, suas crenças e lendas, descortina um vasto campo de investigação, possibilitando, dentro da análise e interpretação dos seus costumes, visualizar os "mitos e realidades" formadores do seu "habitus".
Certamente estes são alguns fatores que contribuem para que a capital dos catarinenses seja carinhosa e merecidamente intitulada "Ilha da Magia", e justificaria, por si só, a intenção de produzir uma obra cultuando suas maravilhas. No entanto, a proposta que ora se apresenta entende que é preciso, e pretende ir além.
“Entre Luas e Marés - Tributo ao Ribeirão da Ilha” consiste na pesquisa, criação e produção de um trabalho autoral e na gravação e reprodução de 1.000 (mil) cópias de 01 (um) Compact Disc contendo 11 (onze) faixas inéditas, objetivando ilustrar através da música e da poesia, a extrema relevância da preservação e da valorização das tradições de uma significativa parcela da população litorânea catarinense, com o propósito de desenvolver reflexões e alertar para a degradação do nosso patrimônio histórico, cultural e ambiental.
O projeto foi desenvolvido para servir de "instrumento didático", uma ferramenta pedagógica que contribua para aumentar o interesse do corpo acadêmico sobre tópicos relacionados à nossa História, e incentive ações que colaborem com a perpetuação da nossa memória. É uma iniciativa que pretende participar no processo de construção de uma conscientização coletiva, cooperando para o desenvolvimento social e o fortalecimento da cidadania, propondo, como contrapartida, encaminhar 200 (duzentas) cópias do CD à Secretaria de Estado da Cultura, Turismo e Esporte, para utilização dentro das escolas públicas estaduais e municipais. Visa contemplar principalmente o ensino fundamental e médio, pretendendo reunir pesquisadores, professores e estudantes, com a finalidade de promover o intercâmbio de experiências, ampliar práticas de pesquisa - estimulando oficinas, exposições, palestras, debates, workshops e outros eventos - e a produção do conhecimento sobre temáticas intrínsecas à colonização açoriana, entre outras.
Objetiva, ainda, ampliar o acesso a ritmos típicos do nosso cancioneiro, oportunizando um contato mais íntimo com sonoridades que fazem parte das mais tradicionais manifestações populares. Letras e melodias foram produzidas a partir de estudos realizados no Ribeirão da Ilha, distrito onde focamos o empreendimento, por meio de entrevistas informais com os moradores, e inspiradas em fontes diversas, como o Terno de Reis, o Pão-por-Deus, a ratoeira, e o boi-de-mamão. A linguagem utilizada busca captar toda a singeleza que é traço marcante no maravilhoso universo do nosso folclore. A Sociedade Musical e Recreativa Nossa Senhora da Lapa, mais antiga e importante instituição musical da localidade, serviu como referência para o desenvolvimento do trabalho, uma vez que se faz presente nos mais significativos eventos sócio-culturais da comunidade, fluindo entre as procissões e cortejos religiosos, e os inesquecíveis carnavais do "Zé Pereira". A execução do projeto pretende incentivar os jovens talentos da "Banda da Lapa", intentando utilizá-los como músicos colaboradores no show de lançamento e em apresentações públicas promovidas para divulgá-lo; interagindo, prestigiando e instigando a revitalização da produção artística local.
É fato que ninguém ama o desconhecido. Crianças e jovens do nosso Estado precisam descobrir as belezas da nossa herança cultural para aprender a valorizá-la. Enfatizar as raízes locais, mas respeitando a pluralidade de cada região. Exaltar e divulgar o que há de melhor em Florianópolis, não no ensejo de criar sentimentos bairristas, mas com o verdadeiro intuito de garantir o direito que as futuras gerações têm, de conhecer uma pequena fração daquilo que lhes resta da sua própria identidade.
Justificativa:
Entendendo que é de vital importância zelarmos por todos os elementos componentes da cultura e do folclore catarinense, a presente proposição pretende cantar e reverenciar os encantos da Ilha: o mar e o pescador, suas estórias e ranchos. A mata, os pássaros e flores. Os ternos, cantigas e sambas. E homenagear alguns "ilustres anônimos", personagens fantásticos que marcaram sua trajetória pelo amor e dedicação à sua terra, disseminando a verdadeira "essência da alma ilhoa".
É uma iniciativa que sugere a defesa desse riquíssimo patrimônio contra todo o tipo de influência externa, advinda do irreversível processo de globalização e do crescimento urbano desordenado, que venha a dissipar as reminiscências mais arraigadas do imaginário coletivo do "manezinho". Partindo do pressuposto que a preservação só pode ser alcançada através de um longo processo de educação e conscientização, é fundamental ressaltar que o projeto procura incorporar um caráter pedagógico, unindo o lúdico ao pragmático; música e poesia à história e literatura - entre muitas variáveis - possibilitando problematizar questões mais amplas a partir da análise e da comprensão da nossa própria identidade.
Além de observar as manifestações populares como parte constitutiva do discurso histórico, e portanto, objeto de estudo, propõe ainda, cooperar com a oxigenação e na difusão das legítimas tradições açorianas, contribuindo para a sua sedimentação e socialização. Tenciona subsidiar a expansão da produção artística local, e estimular seu uso como propaganda para a divulgação da multiplicidade humana e natural do Estado, colaborando inclusive para o incremento e fortalecimento da indústria do turismo em toda a região. É, finalmente, uma tentativa de explicitar a convicção de que passado, presente e futuro podem e devem caminhar juntos, na incessante busca para melhorar nossa relação com o mundo.
No ano em que se comemora o centenário de nascimento de uma das maiores personalidades ligado a pesquisa e produção sobre a cultura açoriana no sul do Brasil, “Entre Luas e Marés - Tributo ao Ribeirão da Ilha” é uma declaração de amor à Ilha de Santa Catarina e uma manifestação de gratidão a todos aqueles que de forma autêntica, como Franklin Cascaes, nos engrandeceram e continuam contribuindo para a preservação e constante re-criação do nosso acervo cultural.
Kalunga